“Leia sempre este livro ao dia. Guarde a noite para ser um Cavaleiro da Ordem da Espada.”

“Após 1.200 anos de sua morte física, Lorde Jesus, o Salvador, ordena que um humano seja preparado pelos anjos para descer a Terra em um futuro distante, para combater poderosas  facções do mal. Ele será treinado por uma nobre e celestial dinastia divina comandada por Lorde Michael, o Arcanjo, para ser um representante angélico. No futuro, ele descerá dos céus e andará entre os homens. E ao cair de todas as madrugadas terrestres, abandonará sua frágil armadura de carne e osso, e surgirá no horizonte celestial como um anjo guerreiro, o primeiro Cavaleiro da Ordem da Espada, uma Ordem de justiça e esplendor. Sua missão será combater a arma mais poderosa das trevas, criada nos laboratórios demoníacos para escravizar as modernas civilizações humanas do futuro. A iniciação começa agora. Sua missão é única e inesquecível...”

Capítulo 1

                           INGLATERRA 1.198 d.C.

                         Nós caminhávamos pela floresta depois de uma grande batalha quando ouvimos um grito. Olhamos um para o outro e nos viramos para trás com a rapidez de que nossas armaduras permitiam.

Gritei: -Alguém está em perigo.Precisamos ir até lá!

Eu e Sir Mccoy não sabíamos que esta seria nossa ultima aventura na Terra. Corremos na direção dos gritos. Uma linda e jovem mulher amarrada. Roupas rasgadas.

Ouço um zunir de flecha sobre minha cabeça. O segundo zunido, o terceiro e o quinto me acertaram as costas, no ombro e no coração. Sir Mccoy já estava caído quando a ultima imagem que vi foi a da linda mulher rindo ao lado de nossos algozes. Era uma armadilha. Nós defendemos a Inglaterra muitas vezes, em batalhas sangrentas. E agora, meu sangue e o sangue de Sir Mccoy caíram por terra. Misturou-se com minha alma e minha honra. Perdemos a noção de quem éramos. Caímos no sono profundo dos mortos. Não quero me lembrar mais...

               Meu nome é Mccarthur. William Mccarthur. Minha história começa em um passado longínquo. Eu fui um guerreiro inglês. Um eficiente e bravo soldado que defendeu o Reino Unido de forma absolutamente feroz. Um guerreiro do rei, repleto de condecorações e homenagens. Um fiel servo do reinado britânico. Eu já me aproximava dos 35 anos de idade e apesar de uma vigorosa forma física, eu já não era o mesmo dos 23 anos, quando matei o primeiro inimigo com uma machadada. O invasor entrou em minha casa para roubar e, ao ver minha pequena irmã de 13 anos, sentiu-se atraído, e resolveu atacar. Sthephanie começou a lutar e gritar. Eu estava a uns duzentos metros da casa e vim correndo, deixando cair à lenha que estava carregando. Ele já estava sobre minha irmã quando o assassinei com um golpe certeiro. Encravei a lamina afiada de um pequeno machado, com os olhos fechados em sua coluna cervical. Ele deu um gemido seco, curto, e caiu para o lado do corpo nu de Steph, que gritava entre lágrimas e sangue. O golpe definitivo foi dado na altura do pescoço, acertando em cheio uma de suas veias principais. Mas não cheguei rápido o suficiente. Ele já havia estrangulado minha mãe, que lutou para defender Steph e o pequeno Julian, de 5 anos, que também se foi quando uma faca atravessou o seu pequeno corpo, ferindo mortalmente seu coração.

                        Três invernos se passaram. Steph se tornou uma bela moça, que chamava muito a atenção dos homens. Sem minha mãe e a presença marcante do pequeno Julian, ela havia se tornado uma jovem vazia. E profundamente triste. Parecia que ela sempre soube que seu destino seria marcado pela violência. Seus últimos dias foram na casa de um velho amigo de meus pais. Não tínhamos mais casa depois que minha mãe morreu e meu pai, um vendedor ambulante, viajante, nos deixou para continuar com seu vício preferido, que era o de conquistar muitas mulheres e deixar filhos em todos os lugares que passava. Steph foi violentada várias vezes por este “amigo” a quem meu pai confiou os cuidados de minha irmã. Ela nos deixou aos 16 anos. Encontrei seu corpo caído nos arredores da casa onde morava. Envenenou-se. Em sua mão direita, um bilhete: “Só começamos a enxergar a verdade quando atravessamos as brumas. E é neste momento que deixamos nossa existência física. Nos reencontraremos Willy. Com amor, Stheph”

                          Desta vez eu não consegui salvá-la. Apenas a vinguei. O estuprador recebeu minha espada em sua garganta quando menos esperava, após fugir e se esconder em terras escocesas por vários anos. Eu o encontrei bêbado vagando por um prostíbulo, e de nada valeu tirar sua vida, porque ele já estava morto quando abusou de Stheph em sua própria casa, ao lado da mulher e filhos. Jogou sua vida em um buraco escuro e fundo, e uma mancha escura virou seu manto, que cobria seu corpo agora transpassado pela lâmina afiada de minha espada.

                         Aos 26 anos, logo depois de sua morte, procurei me alistar junto as Forças do Rei Ricardo Coração de Leão e me tornei um combatente quase perfeito. Hábil com a espada, rápido no galope, minha armadura sempre foi minha segunda pele. Foi com ela que anos depois, fui condecorado por anos de serviços prestados, defendendo o Reino da Inglaterra.

Muitas batalhas marcaram minha vida. Os anos se passaram e foram banhados de sangue, porque aos poucos me tornei Mccarthur, o maior escudeiro do Rei, o guerreiro que inspirava exércitos e exércitos a defender o Reino da Inglaterra. Em todos os inimigos, via a face do homem que destruiu a vida da Steph e no brilho de minha espada, vi minha vida passar. 

Após as batalhas, ficava pensativo sobre os últimos acontecimentos. Centenas de homens morriam, mas nós vencíamos os invasores. Era o preço a pagar. Em minha espada ainda escorria o sangue do inimigo quando de repente, ouvi pela primeira vez, uma voz grave saindo de trás de uma coluna próxima aos jardins do castelo.

“William, você tem coragem para largar tudo o que conseguiu até agora em sua vida?”.

“Terá coragem de abandonar suas posses, seu prestígio, deixar de ser o futuro rei da Inglaterra, a vida de glórias que levou até hoje para se tornar um guerreiro celestial?”

Vi que o dono da voz parece usar um capuz, pois esta foi à silhueta que consegui perceber refletida no chão.

“Quem é que está aí? Saia das sombras se for capaz!”

Puxei minha espada e fui em direção a voz que saia por de trás do pilar. Inexplicavelmente não havia ninguém lá. Fui me afastando aos poucos e comecei a caminhar.E novamente fui interrompido.

“William, você é um grande guerreiro, amado por seu povo e por seu rei! Você tem coragem para lutar contra sua vaidade, seu orgulho e abandonar tudo para lutar ao lado de um novo exército? Perder tudo de uma hora para outra?”

Puxei novamente minha espada e gritei: “Quem tenta me corromper contra meu povo e meu Rei? Jamais abandonarei meu Rei e meu exército.”

Frustrado, não encontrei o inimigo, e na noite que se aproximava, o único som que ouvi como resposta naquele instante foi o trinar dos grilos da floresta.

                                  *           *           *